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O GUARDIÃO DE HISTÓRIAS NÃO SABIDAS - Crônica

O GUARDIÃO DE HISTÓRIAS NÃO SABIDAS

(trecho extraído do Livro Um Peregrino do Tempo - capítulo Janelas para o Mundo)


"Ah! Tinha também uma rotina, que era passar pelo posto do correio para ver com o Jorge, encarregado do local, se tinha chegado alguma correspondência vinda do exterior. Existiam moradores na cidade, todos conhecidos, que eram da Armênia, Alemanha, Itália, Portugal, Espanha e Japão e naquela época todos se correspondiam por carta, pois não havia outra forma de comunicação, excetuando os telegramas que eram transmtidos e recepcionados pelo Luiz, telegrafista da ferrovia, mas somente em casos de urgência e restrito aos locais atendidos pelo serviço do telégrafo. Essa era a minha oportunidade de entregar as cartas como se fosse o carteiro, já que não tinha quem fizesse esse serviço, sendo que as correspondências ficavam à disposição na agência para que fossem buscar.

Naturalmente minha intenção não era tão nobre como se pensa, pois eu sempre estava mesmo de olho nos selos, principalmente os inéditos, para somar à minha coleção, a qual mantinha zelosamente cuidada, catalogadas em álbuns que eu mesmo fazia com capas de cartolina e papel de seda. Um dos passatempos era o de apreciar cada selo e imaginar o caminho que ele fez, desde o artista que o desenhou, a sua impressão, distribuição e venda até quem o colou no envelope contendo uma carta cujo conteúdo somente o remetente sabia.

Quais as notícias continham, eram de alegrias ou de tristezas? Lá estava uma história que só o "selo sabia, na medida em que testemunhou" sorrisos e lágrimas, passando de mãos em mãos, atravessando oceanos e países, até chegar finalmente a mim, que o acolhia e o guardava com carinho, sabendo que eu de alguma forma, com ele, estaria conectado com outras fronteiras do mundo.

Acho que essa é a magia do colecionador de selos, pois ele se transforma em um guardião de histórias, ainda que não sabidas".

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