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O LEGADO DE RUBENS - Crônica

O LEGADO DE RUBENS


Há aproximadamente 5 anos, fazendo uma reforma aqui em casa, precisei de pedras mineiras para o revestimento de chão e procurando na região consegui o contato do Rubens, morador de São Sebastião, fornecedor desse material.


Liguei para ele e combinamos de irmos até a sua casa, na praia das Cigarras.


No dia marcado lá estávamos nós em sua residência, toda construída em pedras, do chão às paredes, coisa realmente diferente, bonita e pitoresca.


Rubens, mineiro da região de São Thomé das Letras, com sua espessa e longa barba branca que assemelhava a um guru, tinha se fixado no litoral paulista já há alguns anos, mas sem perder o seu jeito de mineiro de ser e seu sotaque inconfundível.


Recebeu-nos com hospitalidade e atenção, já oferecendo um cafezinho diretamente do bule que repousava quentinho sobre o fogão a lenha na cozinha anexa à sala onde estávamos, com sua simpática mulher nos servindo enquanto preparava o almoço com iguarias mineiras.


Tão logo entrei em sua casa, estranhei o imenso viveiro repleto de canários da terra e confesso que aquilo me chocou, pois somos amantes dos animais e da liberdade para os mesmos e essa imagem do aprisionamento realmente é muito triste.


Mas, tentando disfarçar a minha reação, começamos a conversar sobre amenidades e coisas do cotidiano antes de entrarmos no assunto que nos levou até ele.


Muito bom de prosa, conversamos sobre variedades, coisas da vida, coisas de Minas, descobrindo inclusive que ele era irmão de ordem, o que fez com que houvesse uma grande identificação de pensamento, exceto pela questão dos canários.


Rubens, inteligente, leitor da linguagem corporal, já havia identificado meu carácter e ideais de amante da natureza e em determinado momento de nossa conversa, pediu licença e se dirigiu a outro cômodo da sua casa, voltando logo em seguida com uma gaiola especial para transporte de pássaros.


Aí Rubens me mostrou a gaiola explicando o seu funcionamento. Mas também exibiu a autorização do IBAMA que lhe outorgava o direito de capturar e transportar essa espécie tão bela de nossa fauna brasileira, contando-me de seu trabalho voluntário de fazer a disseminação dos canários na mata atlântica da região.


Demos boas risadas, pois ele falou que percebeu meu incômodo.


Fiquei profundamente tocado e feliz em conhecê-lo.


A vida sempre reserva coisas interessantes, mostrando-nos que nunca devemos julgar as coisas pelas suas aparências, por mais evidentes que possam parecer.


Aqui em Pauba, ele já havia deixado alguns casais que se proliferaram com os anos, alegrando-nos com seus cantos nossas manhãs e tardes, com seu colorido e docilidade, juntando-se a outros passarinhos que aqui vivem em harmonia com a nossa exuberante natureza.


Hoje, Rubens se foi, passando para o Oriente Eterno, mas continua presente pelo seu legado.


Todos os dias, de certa forma, Rubens nos visita, representado por seus canários que sempre estão aqui a colher o seu alimento em nosso jardim.


Gratidão, Rubens!


O mundo deveria ter mais pessoas como você.




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