A MENTE É A ASSASSINA DO REAL - Ensaio e Poema
A MENTE É A ASSASSINA DO REAL
É comum no estudo teosófico nos depararmos com a frase acima, mas o que de fato significa? É não pensar? Como podemos desprezar a mente, se ela é um instrumento necessário para nos conduzirmos na vida? Para a compreensão dessa questão, costumo fazer uma abordagem astrológica de como funciona o mecanismo que nos conecta, enquanto Almas Humanas, ao mundo do fenômeno da vida no corpo físico. Assim, passo a fazer uma correlação entre a astrologia, conceitos da psicologia e de fundamentos de teosofia, para que se possa compreender a operação da psique. A psique é tudo o que está entre o espírito (pneuma) e o corpo (soma), sendo comumente denominada alma. Mas tem a Alma Humana e a alma animal, sendo essa última a que se relaciona à psique. E cabe aqui, uma pequena digressão sobre o que se entende por alma.
Na tradição cristã, Paulo classificou o homem em espírito, alma e corpo, o que gerou confusão, na medida em que se tornou dificultoso saber os limites que dividem a Alma Humana e a alma animal, ensejando mais tarde questões de doutrina quando no II Concílio de Constantinopla, em 553 d.C., Justiniano declarou anátema a crença na pré-existência da alma. Assim, a ideia da reencarnação foi excluída do catolicismo.
Mas de que alma se está falando? A humana ou a animal? Se for a animal esta sim não pré-existe, enquanto a Alma Humana permanece através das experiências sucessivas dentro da roda de nascimentos e mortes.
Assim, os ensinamentos dos mistérios e da religião-sabedoria, que se perdem na linha do tempo, que floresceram no Egito, Grécia, Pérsia, Trácia, Frígia Creta entre outros centros, estavam relacionados à ideia da reencarnação e o evolucionismo do espírito, como pode ser constatada nas bases da filosofia pitagórica, platônica, neoplatônica e mesmo a cristã, ao menos desde sua origem até metade do século VI. Isso pode ser observado diante de diferentes tradições, que aprontam para essa divisão que vai do espírito à matéria, recebendo nomes distintos segundo as tradições de cada cultura, mas mantendo a mesma estrutura da verdade.
Observe no quadro que na definição hindu, adotada pela Teosofia, Manas é dual, pois faz a ponte entre os dois planos (imanifestado e manifestado). Manas superior está relacionando à inteligência espiritual, portanto superior, estando a serviço da Vontade do espírito, levando à síntese dos valores éticos e morais enquanto a parte inferior está relacionada às formulações cognitivas, questionadoras e analíticas, nas lidas dos apelos do mundo do fenômeno.
Pode-se fazer a seguinte correlação com a astrologia: A vontade do espírito é manifestada pelo Sol, enquanto os desejos estão associados principalmente à Lua e a Marte, assim como as sensações estão ligadas à Vênus. A Mente cognitiva é operada por Mercúrio, que analisa, pesa, avalia, atribuindo classificação de prazer ou dor a todas as percepções sensoriais. A Emoção é a pautada pela Lua que forma a memória da emoção inconsciente que associa a experiência sensorial aos prazeres e às dores, sendo o veículo dos desejos (Id). A Sensação se relaciona a Vênus que forma o sistema sensorial e o impulso é conduzido por Marte (libido) que é ação desencadeada pelos desejos.
Júpiter, assim como Saturno são denominados planetas sociais, pois o primeiro estabelece como a personalidade deve se expressar seguindo códigos como valores, ética, moral e leis, enquanto o segundo estabelece a necessidade de respeito à autoridade, aos limites e da observância das restrições impostas pela convivência social.
Assim, o ego (Sol), a personalidade (Lua, Mercúrio, Vênus, Marte) e condicionantes sociais (Júpiter e Saturno), atuam dentro de uma influência de transformação, criando desafios que impõem esforços no sentido de que a pessoa possa vir a explorar as suas capacidades e se desenvolver dentro de sua jornada que a leva à transmutação. A transmutação está ligada à capacidade de abstração e a de romper com padrões de condicionamentos que prendem a todos à materialidade e possa conduzir à individuação (Urano), à capacidade de intuição e dissolução da personalidade (Netuno) e, por último, à capacidade da transcendência da vida da matéria (Plutão), adentrando definitivamente ao mundo do espírito.
Todas essas funções são envolvidas por uma dinâmica psíquica, onde parece que as nossas reações são simultâneas, mas existe um ordenamento de causa e efeito que opera em cadeia, passando de uma para outra função, ditadas pelos planetas pessoais.
Se eu toco com meu sentido de tato (Vênus) em uma superfície lisa e morna, ou sinto um cheiro, ou ouço algo, e assim por diante, essas mensagens são levadas à memória inconsciente (Lua) a qual já detém, pelas experiências passadas, uma classificação de agradável ou desagradável, ou vai classificar as novas experiências seguindo parâmetros associativos interiores (Mercúrio), sendo que a partir dessa classificação é desencadeado o impulso da ação (Marte), no sentido de se apegar pela repetição à relação sensorial ou repeli-la.
Desta forma, em última análise, é a mente (Mercúrio) quem estabelece a relação sensorial, sendo que esta mente é a sede dos desejos, daí ser considerada, segundo Blavatsky, como sendo “A Mente, a Assassina do Real”, ou o próprio “diabo”, quando está a serviço do egoísmo. Por isso ao afirmar que se mate a assassina, Blavatsky está a indicar o trabalho a ser feito, transformando a mente da sede dos desejos em mente consciente e receptiva da Vontade advinda da verdadeira realidade, que é a essência espiritual, dando-se um novo significado de aproveitamento da vida.
A mente imensurável da permanência.
A mente impassível,
Que a tudo analisa,
Critica, cristaliza, fragmenta,
Condiciona-se embotada, limitada.
Pelo seu método, apura e censura,
Pesa, mede, testa, intenta,
Pensa que seu conhecer a tudo cura!
Com títulos e honras, arroga-se sensível.
Julga-se pura, mas se narcisa,
Mesmo quando divisa a tormenta,
Soberba atua, não se inclina, inadmite.
Vive centrada,
Capturada, arraigada
Junto às hostes das paixões!
A mente mente,
pois se deixou puramente
de ser mente pura.
A mente mente,
pois se permitiu simplesmente
de ser mente simples.
A mente mente,
pois cedeu plenamente
a negar a mente plena.
Após muitas eras,
Em tropeços e errantes desacertos,
Descobre-se, por fim, ser mera quimera.
Advém o confronto, pelas sombras da agrura,
Vive implacáveis sofrimentos,
Pesares desalentos,
Imensa dor que depura.
Dilacerada, malfadada, descrente,
Finalmente encontra alento,
Ao inclinar-se humildemente,
Ante o íntimo chamamento,
Da Mente Universal.
Aí, inexiste o local,
Não há mais passado nem futuro,
Não há claro ou escuro,
Somente o eterno-agora, atemporal.
Destas coisas a limitada mente
Nada pode querer ou expressar...
A compreensão é reservada
Só pelo poder do amar!
Assim, a limitada mente se transforma,
Adentra o mundo sem forma,
Entoa livre, em harmonia,
Odes em vibração e sintonia
Com a plenitude do amor!
Portanto, caminho e sigo em frente,
Sem o olhar nas diferenças
Que geram desavenças!
Sem jamais esquecer que,
Mesmo imperfeito em mente,
De fato sou, na minha essência,
A Mente Imensurável da permanência!
A Mente.
Amem-te!
Amém!
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