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A ALEGORIA DA CAVERNA - ESTÍMULOS E MOTIVAÇÕES - Temos a capacidade de motivar as pessoas? - Ensaio


Motivação depende da vontade e do desejo da própria pessoa em vir a se mover para a satisfação de algo que ela necessita. Daí a palavra sugerir o movimento para a ação, que é um atributo pessoal.


Sendo a motivação inerente ao interesse da própria pessoa, ninguém tem a capacidade de motivar alguém. Pode, no entanto, ser um vetor para a motivação na medida em que venha a oferecer um estímulo para fazer com que se desperte o desejo e a vontade do outro.


Por exemplo, uma propaganda visa estimular a pessoa para o consumo, mas o ato de consumir vem da motivação que é o atributo interior do indivíduo.


Maslow define as 5 necessidades que são satisfeitas conforme o nível da vontade e dos desejos de cada um, sendo as motivações associadas a essas necessidades.


É importante diferenciar o que é vontade do que é desejo, que têm conotações sutilmente distintas.


A vontade é produzida pelo eu espiritual e o desejo advém do eu da personalidade, ou seja, do ego psicológico.


São Paulo, por exemplo, classifica o homem como sendo Espírito, Alma e Corpo. Mas a alma é dual. Uma parte se liga ao espírito e a outra aos desejos apetitivos da pessoa, relacionados à satisfação, desde ao atendimento às necessidades reprodutivas, de alimentação, proteção, segurança, associativas e pertencimentos, autoestima, até chegar na realização, que já adentra à esfera da vontade espiritual.


A mente ligada aos desejos rege a mente cognitiva (que analisa, pondera, rotula e julga), assim como rege o corpo dos desejos, formando o que se denomina psique.


Então a psique, segundo Freud é formada pelo Ego, Id e Superego. Id são os desejos e Superego são os freios aos desejos.


O Ego fica entre os dois, tendendo ora a um e ora a outro, mergulhado no inconsciente. Jung vai além, ao descobrir inconsciente coletivo. O inconsciente coletivo está relacionado ao ser do plano espiritual, ligado ao inconsciente pessoal profundo (alma individual humana).


Se o indivíduo é conduzido por id ou pelo Superego, ficará suscetível aos chamados do nível mundano (relativo a sua existência corpórea). Daí a necessidade de estar aberto para o inconsciente, principalmente o profundo.


Sócrates se refere ao conhecimento desse eu profundo quando diz "Nosce te ipsum" - Conheça-te a ti mesmo. A frase completa, no entanto, estava estampada no pórtico da entrada do templo de Apolo, em Delfos e dizia "conheça-te, pois conhecendo a ti mesmo, todas as riquezas do universo e os deuses lhe serão revelados.


Isso somente pode ser feito pelo processo do autoconhecimento, pela experiência mística e transcendente.


Por isso é um processo espiritual.


São Paulo nos fala ainda "Desperta tu que dormes; Levanta-te entre os mortos e Venha ao coração de Cristo, que ele vos iluminará".


É equivalente ao anunciado socrático, pois, quem está dormindo e morto senão todos nós enquanto presos ao corpo do intelecto superficial, do corpo dos desejos e do corpo físico?


Lembremos que tanto Sócrates, Platão como Paulo, assim como Pitágoras entre outros, foram iniciados nas mesmas Escolas de Mistérios e falavam as mesmas coisas.


Então, conclui-se, que o despertar é uma condição individual, sendo que a motivação suprema é a que leva, segundo Maslow, à epifania, que é o ápice da pirâmide das necessidades humanas. Pode-se comparar ao estado de samadhi do budismo.


Platão usa a alegoria da caverna para descrever esse despertar individual, iniciado por um estímulo que determinou a motivação do prisioneiro rumo a sua libertação.


A narrativa nos conta que as pessoas estavam aprisionadas ao fundo de uma caverna, sem contato com outra realidade que não fosse a da visão de sombras projetadas nas paredes, iluminadas por uma luz tênue produzida por uma fogueira.


Todos presos a um condicionamento similar a que Paulo descreve, onde, em estado de torpor, viam apenas sombras projetadas.


Mas, um dos indivíduos, instigado pelos movimentos das sombras (que são os estímulos) se solta das amarras e lentamente vai tateando a entrar em contato com outras realidades até que sai definitivamente da caverna e se deslumbra com um universo totalmente novo, ainda que desconhecido e não compreendido.


É até aventada a hipótese dele retornar ao fundo da caverna para dizer aos outros o que viu, mas certamente será considerado louco delirante e talvez até sendo morto por subverter a ordem estabelecida.


Este é o dilema do desperto, pois ele somente enxerga e sente aquilo que está dentro de sua perspectiva, sendo uma realidade de interação subjetiva.


Embora haja a vontade de querer compartilhar aquilo que ele sabe, o desperto não tem a faculdade de despertar exceto a si próprio. Quando muito ele pode ser agente do estímulo do despertar.


No fim, somos todos pilotos de um voo solo, noturno, sem instrumentos e às vezes em condições atmosféricas adversas.


E não há como ser diferente! As adversidades do voo são necessárias para que possamos perceber as imagens distorcidas projetadas no fundo da caverna, sentirmos incomodados com as mesmas, até que nos movemos (nos motivamos) para tomar o rumo certo.


Por isso que as crises que vivemos são necessárias e importantes, principalmente esta a que estamos a viver, pois têm a capacidade de nos tirar da então zona de conforto pelo próprio desconforto.


Mas para isso temos que saber aonde ir.


Sêneca falava que o piloto que não sabe para onde ir, todos os ventos o levarão a lugar algum.


Parece-me ser esse o maior problema humano. Não saber para onde ir. E isso se compreende, pois quem não sabe de onde veio, não sabe o que está fazendo aqui, naturalmente não saberá para onde ir.


E aí se vive no interior da caverna, mergulhado em duas condições. Entrega-se à vida hedonista, na busca por satisfações insaciáveis dos prazeres sensoriais ou se rende à cobiça e arrogância do acúmulo de bens e de poderes. Condições que atendem à gana, ao sexo, à satisfação efêmera dos apetites grosseiros, a subjugar o outro aos seus quereres, pois se esqueceu de sua essência, por estar dormindo e morto para as coisas do espírito.


O sair da caverna é uma experiência mística e individual, produto do despertar interior.


Portanto, procuremos os estímulos para que acordemos do sono profundo.




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