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A "Saída" do Labirinto da Vida - Ensaio

A "SAÍDA" DO LABIRINTO DA VIDA – TESEU E O MINOTAURO

Um passeio pelos mitos e seus significados

Havia na ilha de Creta um rei chamado Minos. Minos para ampliar o seu domínio e poder, pede a Poseidon (Netuno), deus dos mares e oceanos, invencibilidade sobre todos os demais reinos. Poseidon pede como troca, o melhor touro de seu plantel para sacrifício. Um magnífico touro branco.

Como Minos era arrogante e mal intencionado ele presenteia Poseidon com outro touro de segunda linhagem, trapaceando-o.

Mas Poseidon descobre a fraude e trama uma vingança, fazendo com a rainha Pasífae, esposa de Minos, tenha um desejo súbito em copular com o touro branco.

Pasífae encomenda uma roupa de vaca a Dédalo, o maior arquiteto da época, para que assim pudesse seduzir o Touro, o que de fato ocorre, consumindo o ato, engravidando-se.

Quando do nascimento do rebento, para a surpresa de Minos, vem à luz um monstro, com corpo de homem e cabeça e pernas de Touro, dando-se o nome de Minotauro. Para esconder a sua vergonha, Minos encomenda ao mesmo Dédalo, a construção nos porões do palácio de Knossos, um grande labirinto, aprisionando o Minotauro no seu interior (Fig 1).

No entanto, Minos, por ser invencível nos mares, saiu vitorioso de uma guerra travada contra o rei Egeu de Atenas, que pela derrota, deveria pagar um tributo, a cada período de nove anos, onde 7 casais de jovens, seriam enviados de Atenas à Creta, para serem oferecidos como alimento ao Minotauro.

Egeu tinha um filho destemido, inteligente e preparado na arte da guerra, chamado Teseu e quando do envio da terceira remessa de jovens, ele se faz incluir junto ao grupo.

A chegar a Creta ele conhece Ariadne, filha de Minos e os dois se apaixonam e antes de ser enviado ao Labirinto, Teseu ganha de Ariadne uma espada e um novelo de linha, para que pudesse usar como guia fixando-a na entrada do labirinto o que permitiria descobrir o caminho de volta à saída.

Teseu assim procede e no interior do labirinto mata o touro, sai utilizando o fio como guia e foge com Ariadne para fora de Creta.

A REVELAÇÃO DO MITO

Na tradição védica existe um símbolo que traduz toda a manifestação do espírito na matéria que é o Sri Yantra (O Senhor dos Yantras), que contém vários trígonos entrelaçados (Fig 2).

Um Yantra é uma mandala (força propulsora visível) e está correlacionada com um mantra (força propulsora invisível) que contém o “som” primordial do início dos tempos. Assim, toda estrutura física na realidade é composta de átomos aglutinando-se em vibrações por energias, lembrando que o Verbo (Logos) é criador e mantenedor da vida pela emanação pelo Sol, lembramos o Evangelho de “João 1:1 No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus”.

A mandala, com todo o jogo de polaridades apresentada, sintetiza a dicotomia da vida, onde ao vivermos somos submetidos à ambiguidade entre o bem e o mal, a vontade e o desejo, o ter e o distribuir, o saber cognitivo e a abstração, o passado e o futuro, o autocentrismo e a percepção da importância do grupo, o utilitarismo e o altruísmo.

A vida de todos nós circunda entre esses pólos pendendo ora para um, ora para outro, sendo que a saída de conciliação é o ponto focal, ou seja, o interior da mandala. Em geral, somos seres bipolares.

A mandala na realidade representa o labirinto da vida, onde nós estamos enredados nos descaminhos que não levam facilmente à verdadeira saída.

O labirinto é a própria vida com toda a sua complexidade apresentada, onde nós somos colocados em situações que nos devoram, como o próprio Minotauro, que é o nosso corpo de desejos..

Na astrologia o touro é um signo fixo, de terra, regido por Vênus, que personifica a relação sensorial que temos com todas as coisas do mundo.

Não adentramos ao labirinto - Nós somos o próprio labirinto e somente podemos sair se matarmos o touro do desejo que habita em nossa psique.

E para matá-lo a chave é o fio de Ariadne.

Mas o que é o fio de Ariadne?

O maior símbolo de Hermes é o seu caduceu (Fig 3), tão desvirtuado no mundo de hoje, onde ele foi incorporado como emblemas de profissões como contadores, comerciantes, médicos e farmacêuticos.

No entanto, o que revela este símbolo é de grande profundidade.

O caduceu é a nossa coluna espinhal por onde passam nadis, que são canais por onde flui o prana conectando com os sete principais chakras, com funções supra-sensoriais. Os principais nadis são Sushumna (coluna) e Ida e Pingala, representadas pelas serpentes (Fig 4).

A Sushumna segue o alinhamento da coluna vertebral (cérebro-espinhal) e flui da extremidade inferior da mesma até chegar a extremidade da cabeça, enquanto que Ida e Pingala são relacionadas aos dois hemisférios do cérebro, que descem e sobem serpenteando em torno da coluna. Ida é o princípio feminino (lunar, Yin) enquanto Pingala é masculino (solar, Yang).

A respiração adequada estimula o serpentear do fluxo de energia e se associada a práticas de uma vida pura e sagrada, é capaz de levar ao despertar da iluminação, irradiando para o centro coronário (ligado à pineal ou epífise) e permitindo a conexão com o supra-consciente ou ao plano divino (Fig 5).

Na iconografia cristã é a aura irradiada sobre a cabeça dos santos e isso não é mera ilustração, é uma verdade conhecida desde as eras arcanas.

Na tradição egípcia também isso é representado, como se pode perceber nas máscaras mortuárias dos faraós, onde sobre a cabeça manifesta-se a serpente.

Todo este milenar conhecimento foi mantido cifrado pelos mitos, perpetuando-se intactos, resistindo mesmo às diferentes civilizações de tristes tempos que foram pautadas pela intolerância e interesses de domínio pela força da espada, dos dogmas e das superstições, pois nada entendiam sobre os reais significados ocultos. O mesmo ocorreu com os contos infantis, que ainda guardam tesouros do verdadeiro saber.

Este conhecimento, embora tenha sido velado, estarão sempre vivos e pulsantes, principalmente nos corações daqueles que almejam verdadeiramente comungar da mesma essência que provê a vida. O Uno.

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