O simbolismo oculto de Star Trek - Ensaio
Admirador da série desde o seu lançamento em 1966 nos Estados Unidos e exibida no Brasil a partir de 1968, ficava ansioso na expectativa das aventuras reservadas semanalmente apresentadas pelos novos episódios onde éramos convidados “a explorar novos mundos... pesquisar novas vidas... novas civilizações... audaciosamente indo onde nenhum homem jamais esteve”.
Com uma narrativa ambientada pela ficção científica sempre trazendo questões da existência humana, com seus conflitos, choques de costumes, raças e de civilizações, os temas nos remetiam a reflexões filosóficas nos colocando diante de um universo desconhecido, sem sabermos nossa origem e as motivações da vida.
A busca desta origem justamente pode vir a ser encontrada indo “onde o homem jamais esteve”, por meio da exploração de novos mundos. Ou seja, buscar pelo conhecimento dos universais o significado dos particulares, que é o método da lógica.
Por três anos a série foi uma sensação e após o término da terceira temporada em 1969 (no Brasil, no início dos anos 70), foram produzidos 6 longas-metragens (até 1991), novas séries de 1987 a 2001 (The Next Generation, Deep Space Nine, Voyager, Enterprise), mais 4 longas com os personagens da nova geração e a partir de 2009 mais 3 longas com o novo elenco, incluindo o último (Beyond) lançado neste mês de setembro (2016).
Ou seja, 50 anos de sucesso! E qual o segredo deste sucesso?
Vejamos. O filme é repleto de simbolismos.
Inicialmente, temos o emblema estampado nos uniformes em formato triangular com o vértice apontado para cima.
Dentro da iconografia sagrada o triângulo representa a divindade. É a pirâmide, em uma alusão à potência trina. Pelas diferentes tradições são três as potências criadoras do universo manifestado, podendo ser citados: Osiris, Horus e Isis (Egípcia); Onisciência, Onipotência e Onipresença (Judaísmo); Pai, Filho e Espírito Santo (Cristã); Brahma, Vishnu e Shiva (Hindu) e mesmo Força, Energia e Matéria, para os Alquimistas, ou ainda Liberdade, Igualdade e Fraternidade, para os iluministas e maçons.
Assim, como representantes da manifestação de Deus, os tripulantes parecem que estão a serviço em levar a um estado de pacificação e reconciliação global, representando uma Federação Unida de Planetas, com um ideal universalista, tendo nesta empreitada o confronto com Impérios que se opõem, pois estes exercem o domínio pela opressão.
Aqui vemos nitidamente, a eterna luta entre a luz e as trevas que sempre estão presentes nas sagas épicas, onde o herói busca derrotar o dragão do mal (não é a toa que os klingons, romulanos e cardassianos, representantes dos impérios opressores são draconianos ou reptóides).
Temos também a espaçonave enterprise, cujo desenho representa o Planeta Urano que incorpora o inusitado, a inovação, a tecnologia. Urano representa a necessidade de libertação de qualquer tipo de condicionamento.
Urano rege também o intelecto e a razão, orientando a fraternidade entre os homens, na busca pela sociedade justa e perfeita. Por reger Aquário, abraça os ideais da Liberdade, Igualdade e Fraternidade, que formam a tríade que sustenta a formação do mundo moderno e liberto, com os três poderes de governo, autônomos e interdependentes (Executivo, Legislativo e Judiciário).
Assim temos os tripulantes conduzidos por um ideal e aí não é um simples roteiro de aventura e ação. Há uma linha de conduta, moral e ética, a mover o enredo, sem, contudo, ter um desfecho final, pois o universo sempre se descortina em novas possibilidades, conduzindo ao infinito da jornada da alma.
O verdadeiro homem também é trino em sua constituição, estando igualmente representado nas diferentes tradições de forma similar.
Enquanto individualidade não manifesta no mundo dos fenômenos (ou espírito puro), ela é formada por Vontade, Sabedoria e Inteligência.
Na tradição hindu é denominado Atma (Espírito), Bhuddi (Iluminação) e Manas (Mente), nos Mistérios em Alexandria é Vontade espiritual, Sabedoria espiritual e Inteligência espiritual, na Cabalista: Kether (Coroa), Chokmah (Sabedoria) e Bina (Compreensão) ou Egípcia: Neter, Ba (Essência luminosa) e Khou (Substância inteligente).
Assim, este conjunto constituído por Vontade, Sabedoria (ou Amor e Intuição) e Inteligência, perfaz o homem espiritual, com suas virtudes potenciais.
Estes três atributos são igualmente representados pela tríade com vértice voltado para cima.
Entretanto, quando o homem encontra-se enredado na matéria, ou seja, encarnado em um corpo físico, ele, com seus três princípios divinos, encontra-se eclipsado (apagado, esquecido de sua essência divina), conforme menciona Platão em “A República” de que o “Corpo é o sepulcro do espírito”.
Nesta condição estes três princípios superiores, quando plasmados na matéria, refletem suas contrapartes associadas a três veículos de expressão no mundo das manifestações, ou seja, Corpo físico (instrumento da ação material do fazer), Corpo emocional (conjunto de emoção que regem o desejo e repulsa) e Corpo Cognitivo (instrumento da mente cognitiva capaz de discriminar, separar, elaborar, mecanizar, ordenar as coisas de forma concreta).
Estes são arquétipos universais, pois na realidade somos seres dotados de todos estes três atributos, dispostos em eixos complementares. A virtude superior orienta a natureza inferior e esta a alimenta com experiências de identificação no despertar dos atributos divinos.
Somos Vontade-Ação. Somos a mente Cognição-Inteligência/Abstração. Somos também a Emoção-Sabedoria/Amor e Intuição.
A capacidade em agir depende da vontade. Ação sem vontade é mera construção vazia. Vontade sem ação é devaneio, utopia, quimera, como diz Tiago: “A fé sem obras é morta” (2:14-26).
A mente é dual, sendo que somente podemos desenvolver a verdadeira inteligência com o exercício do conhecimento cognitivo e, paradoxalmente, concluirmos de que o mesmo é um mero instrumento, não tendo fim em si mesma. Assim a mente que questiona deve estar a serviço da superior (considerada abstrata), a qual incorpora valores éticos da verdadeira compreensão em que não existe a forma, o tempo, o espaço, caminho ainda a ser trilhado até a iluminação.
Emoção e sabedoria (amor e intuição) são de similar natureza, pois ao sentir pelas emoções podemos nos perceber e nos tornarmos sábios. A sabedoria não é intelectiva, mas sim nasce da luz da intuição, que nos liga com a essência espiritual. A emoção desprovida de sabedoria leva-nos ao mero sentimentalismo.