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Os quatro elementos nos relacionamentos humanos - Ensaio

Embora tudo seja originário da mesma fonte primária, o universo ao se manifestar, fragmenta-se em pares dicotômicos, geralmente contrários, assim como as sete cores do prisma são meras decomposições do espectro da luz branca solar, a projetar tons e subtons, em miríades possibilidades de combinações.

O zodíaco com os seus doze signos, que simbolizam a trajetória da evolução humana, é dividido em dois grupos: seis masculinos e seis femininos, que ora se conflitam, ora se complementam. Estes signos, associados aos planetas e as casas, multiplicam-se igualmente em tipos de infindáveis distinções.

No entanto, é comum quando se fala dos relacionamentos na astrologia, associar-se que tal signo não combina com outro, este com aquele e assim sucessivamente, reduzindo-se os relacionamentos a um jogo simples de polaridades.

Vivemos em um mundo dos relacionamentos e a compreensão das diferenças é fundamental para que possamos trilhar caminhos que conduzam ao convívio construtivo com o semelhante e também conosco mesmo.

As afinidades e dissonâncias de fato existem e para a sua compreensão as mesmas devem ser analisadas seguindo-se uma visão mais ampla da tipologia humana e das funções da consciência, denominadas, segundo Jung, de intuição, pensamento, sentimento e sensação, ou, de acordo com Hipócrates, aos quatro humores: colérico, sanguíneo, fleumático e melancólico, sistemas que coadunam perfeitamente com as classificações da tradição astrológica que se perdem nas brumas do tempo.

Atitudes = Expansivos x Introspectivos

Segundo os conceitos dos tipos psicológicos apresentados por Jung, os indivíduos se apresentam como Expansivos (masculinos e extrovertidos) e Introspectivos (femininos e introvertidos).

Os indivíduos extrovertidos focam suas atenções no ambiente externo de maneira expansiva, inteirando-se com as coisas e com as pessoas, enquanto os introvertidos são subjetivos, direcionando-se para o mundo interior, tornando-os introspectivos.

Os elementos Fogo e Ar são yang, ativos e expansivos, e Água e Terra são yin, receptivos e contráteis.

Em uma primeira análise yang e yin (embora complementares) são incompatíveis, pois se uma pessoa é muito ativa, naturalmente terá dificuldades de se relacionar com quem é muito passivo e vice-versa.

Poderíamos fazer o seguinte exercício associativo. O FOGO se alimenta do AR e este (o oxigênio) é resultado de reações onde o FOGO é determinante em sua formação, portanto, os dois elementos se afinam. O mesmo pode ser dito dos elementos ÁGUA e TERRA, pois assim como a água brota da terra, a terra para ser fértil necessita da própria umidade proporcionada pela água.

O FOGO e a ÁGUA, aparentemente são incompatíveis, pois a água apaga a fogo e este a ferve, assim como a TERRA sufoca o FOGO e este a torna ígnea, fazendo-a perder suas características naturais.

Ou seja, alguém que tenha uma natureza predominantemente expansiva (FOGO), pode ter dificuldades com quem é de natureza fortemente sentimental e introspectiva (ÁGUA).

O mesmo pode-se de dizer daquele que é expansivo (FOGO) com quem necessita de uma estrutura material e conservadora (TERRA).

Imaginemos uma pessoa estritamente mental e racional (AR) se relacionando com outra excessivamente sentimental (ÁGUA). Naturalmente terão dificuldades, pois os interesses são antagônicos. O mesmo pode se dizer do mental e racional (AR) com aquele estritamente material (TERRA).

Assim, os dois tipos opostos apresentam as seguintes características:

Tipos = Racionais (Pensamento e Sentimento) x Irracionais (Sensação e Intuição)

Ainda no conceito dos tipos apresentados por Jung, os indivíduos se classificam entre Racionais e Irracionais.

Os indivíduos racionais são regidos pelo pensamento ou pelo sentimento, buscando a avaliar de forma reflexiva as suas relações com o mundo e se agrupam neste tido os elementos AR (Pensamento) e ÁGUA (Sentimento).

AR conceitua e soluciona os problemas pelo intelecto (Lógica) e ÁGUA pelo julgamento advindo da discriminação pelos valores que a pessoa tem (ético-antiético, moral e imoral, bom ou mau, certo ou errado, importante ou não) e isso advém da avaliação pelo sentimento. Isso não tem a conotação em o indivíduo ser ou não emotivo.

Já os Irracionais são orientados pela sensação ou intuição e percebem o mundo além de recursos da razão.

TERRA (Sensação) percebe por experiências estimuladas pelos sentidos e suas percepções interiores e FOGO (Intuição) pela experiência imediata do mundo interior e de maneira inconsciente.

Embora exista uma similaridade entre as funções racionais, as funções opostas como Pensamento e Sentimento têm dificuldades em operarem juntas, pois são modos totalmente diferentes de se avaliar, sendo que o primeiro depende da lógica objetiva (em detrimento da resposta pessoal) e o segundo alicerça-se em fatores subjetivos e pessoais, segundo seus próprios critérios.

De forma similar os Irracionais, que incluem as funções da Intuição e Sensação, também não operam simultaneamente, porque partem de formas de percepção distintas, sendo que a Intuição se fundamenta no inconsciente, resultado de uma experiência intangível com o mundo, enquanto a Sensação advém da relação sensorial direta e tangível com o objeto (produto dos cinco sentidos).

Tipos = Empíricos (Pensamento e Sensação) x Psíquicos (Intuição e Sentimento)

Outra classificação agrupa os indivíduos entre Empíricos e Psíquicos e adicionará mais luz para se compreender as questões do relacionamento entre os elementos.

O FOGO está relacionado ao espírito, sendo que este elemento por ser mais sutil proporciona a INTUIÇÃO. A ÁGUA está relacionada à alma, sendo associada ao SENTIMENTO.

Ora, SENTIMENTO e INTUIÇÃO são compatíveis, pois a primeira, se bem estruturada, desenvolve a segunda (intuição) e esta proporciona uma melhor expressão do sentimento.

Então, FOGO e ÁGUA, podem resultar em uma relação construtiva, pois se baseiam em uma estrutura mais espiritual do que material, resultando em uma relação de Sentimento Intuitivo.

[Na teosofia é a integração entre de sabedoria (Buddhi = Iluminação, intuição) e Sentimento (kama = Emoção), potencializando o discernimento].

Vamos ver então, AR e TERRA.

O elemento AR está relacionado com o PENSAMENTO, sendo mental, racional e/ou abstrato e resulta da relação da mente com o mundo cognitivo (capacidade da análise – mundo dos particulares) e com o mundo das ideias (capacidade da síntese – mundo dos universais).

A TERRA é o mais sólido dos elementos, tendo uma relação SENSORIAL com o mundo dos fenômenos.

Assim, estes elementos, embora de natureza aparentemente antagônicas, tem afinidades na medida em que reúnem tendências empíricas nas relações com o mundo, resultando no Pensamento Empírico.

[Na teosofia é a associação virtuosa entre mente concreta (manas inferior – análise metodológica) ou mente abstrata (manas superior – abstração) e ação concreta (corpo físico), voltados à realização e aperfeiçoamento conscientes da forma (o lapidar da pedra buta)].

O grupo AR e FOGO, como são de natureza similar, resultam no Pensamento Intuitivo, constituindo em uma relação harmoniosa.

[Na teosofia é a associação virtuosa entre sabedoria (Buddhi = Iluminação, intuição) e inteligência (manas superior - abstração), direcionando a elevação ao SER].

Finalmente a associação entre TERRA e ÁGUA, gera o tipo Sentimento Sensorial.

[É necessária a compreensão de que a realização da matéria deve emanar do sentimento do amor].

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Desta forma, não somos apenas um signo, um elemento, um temperamento, um comportamento, mas sim temos em nossa estrutura psicológica uma soma de fatores que nos tornam únicos em nossa expressão.

Afinidades e dissonâncias são tendências favoráveis e desfavoráveis que temos na vida.

Dentro dessa visão, quem na realidade somos nós?

Podemos ter um signo solar ou lunar de ar, mas de fato sermos extremamente sentimentais.

Racionalizamos esse sentimento ou ele se manifesta de forma desequilibrada a ponto de não podermos raciocinar a contento sobre as questões quando eles são colocados abruptamente?!

A mesma indagação ou assertiva é valida para outras situações onde podemos nos confundir se utilizarmos conceitos de forma simplificada.

Na realidade temos em nossa estrutura grandes paradoxos que se constituem desafios que devem ser superados para que possamos nos tornar mestres na arte da vida.

Somente podemos nos tornamos mestres quando tivermos consciência de quem somos, resolver nossos conflitos e criar as bases para o relacionamento sadio e construtivo com o outro. No entanto, essa é uma longa caminhada; um processo que se desabrocha a cada dia cujos resultados depende das experiências justamente com os relacionamentos, que é o verdadeiro laboratório que nos coloca sob reais provas.

Ao buscarmos o outro (principalmente aquele que escolhemos como parceiro ou parceira em uma jornada) devemos estar atentos para que sejam pessoas que possam nos auxiliar nessa caminhada, assim como possamos igualmente apoiá-los em suas dificuldades.

Na entrada do Templo de Apolo, em Delfos, era exibida a inscrição Nosce te ipsum (Conhece-te a ti mesmo ou "homem, conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses e o universo"), o mesmo princípio que inspirou Sócrates a construir sua filosofia.

Não há outro caminho a trilhar!

Assim temos que fazer essa busca em conhecer a nossa real motivação, quem somos (o que devemos de fato SER), e o estudo da astrologia pode nos auxiliar neste processo do autoconhecimento e nos orientar para o verdadeiro crescimento rumo à libertação.

Paz em sua caminhada!

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