O Templo e os Templários – Origem, História e Legado - Ensaio
Extraído de palestra proferida por Antonio Carlos Jorge em 27 de agosto de 2004
Temos dificuldade em compreender como a história é desenhada. Eventos aparentemente sem conexões, impondo dor, desesperança, incertezas, sem um propósito aparente. Mas se nós analisarmos esses mesmos eventos sob a ótica de que tudo está inserido dentro do contexto da evolução humana e que existe um plano divino que conduz o homem a um destino glorioso, nós poderemos entender com olhares menos críticos a ordem dos acontecimentos.
Assim, o objetivo desta palestra é discorrer sobre uma importante história que embora tenha por foco a sociedade ocidental e sua relação com a questão do Templo, poderemos ver como isso pode ter grande relevância para a história contemporânea e futura da humanidade e dentro deste contexto vamos ver como os templários foram importantes agentes na condução desse projeto espiritual.
O verdadeiro Templo não é físico, mas sim aquele que determinará as condições necessárias para que se faça possível a conciliação humana.
Para tanto a fundação desse Templo a ser edificado deverá estar alicerçada em uma terra sólida, de esperança e redenção, em pátria sem fronteiras de convívio pacífico de todas as raças e credos, para que possa ser o luzeiro da humanidade. Esta terra tem nome. Em celta antigo é chamada "Hy Brazil" ou "terra abençoada".
Assim iniciaremos a exposição abordando questões históricas, de referência Bíblica e do Alcorão, assim como conjecturas de elementos históricos, dos quais os historiadores tem muito ainda a pesquisar e a revelar.
Os antecedentes judáicos e os primeiros templos
A Bíblia nos diz que há aproximadamente 2000 aC, vindos da Mesopotâmia, Abraão e Sara, seguindo a determinação de Deus, de acordo com as tradições judaicas, se estabeleceram na Palestina, encontrando a Canaã, a terra prometida. A Jerusalém.
É necessário que Abraão tenha um herdeiro e como Sara era estéril, ele desposa Hagar, uma serva egípcia, e desta união nasce Ismael.
Posteriormente Sara, aos 90 anos, tem uma revelação de que poderia ser mãe, fato que se concretizou, dando à luz Isaac.
Após o nascimento de Isaac, Sara faz com que Abraão expulse para o deserto, tanto Hagar como o seu filho Ismael, os quais são enviados à península arábica.
Devemos nos lembrar da passagem bíblica onde Deus determina à Abraão o sacrifício de seu filho Isaac no alto do monte Moriá, o que não é consumado por determinação do próprio Deus. Desta forma este monte passa a ter um significado muito importante, sendo um local sagrado.
Nós temos a partir daí os primeiros patriarcas. De Isaac nasce Jacó e de Jacó nascem vários filhos, sendo José o seu penúltimo filho. Por ciúmes de seus irmãos, José é vendido como escravo sendo levado ao Egito onde, livre, torna-se um escriba de confiança do faraó, ocasião em que ele profetiza os anos de vacas magras, relacionados a um grande período de estiagem.
O posterior período de grande seca que assola toda aquela região faz com que os hebreus que estavam na Palestina, migrem para o Egito, já que era o grande centro com condições de acolhê-los.
Com a morte de José, os judeus deixando de contar com sua proteção, passam a ser escravos dos faraós, de tal forma que permanecem cativos por aproximadamente quatrocentos anos, até surgir a figura de Moisés, por volta de 1350 a.C., ocasião em que retira os hebreus e os conduzem de volta à Palestina, o que é denominado o êxodo judaico.
Durante a jornada, antes de chegar à Canaã, Moisés tem a revelação no monte Sinai dos dez mandamentos, gravados em tábuas de pedra, o que se constituirá no código de conduta dos judeus (Lei Mosaica) e para protegê-las foi construída uma urna para que nela fossem depositadas. A chamada Arca da Aliança.
Moisés não chega a se estabelecer em Canaã, pois morre e é sucedido por Josué.
Josué empreende toda uma guerra contra os arameus, filisteus, cananeus, até que se estabelece em Jerusalém por volta de 1020 aC. Temos o primeiro rei judeu que é Saul, o qual é sucedido por Davi, por volta de 1000 aC.
O sonho de Davi era construir um templo que pudesse acolher a Arca da Aliança, pois as tábuas eram consideradas a palavra viva de Deus. Ele estabelece um projeto para a construção desse tempo, mas o templo vai ser edificado na verdade pelo seu filho, Salomão, no alto do monte Moriá.
Salomão empreende todo um esforço para a construção do Tempo, com o auxílio de Hiram, rei de Tiro (Fenícia), que além de fornecer o cedro e demais materiais, fornece também o maior arquiteto que realiza a construção: HIram Abiff. Desta forma fica clara a aliança dos Hebreus com os Fenícios (I Reis 9:10).
O Templo (figura abaixo) é concluído no ano de 950 aC e os judeus permanecem na região até o ano de 589 aC, ocasião em que são levados cativos para a Mesopotâmia, sob o domínio de Nabucodonosor. Na Bíblia, em II Reis 24, há referência sobre a destruição do templo e o saque cometido, embora não tenha nenhuma alusão à Arca da Aliança.
Nabucodonosor, posteriormente, é derrotado em guerra pelo rei persa Ciro, ocorrendo a libertação dos judeus, os quais retornam a Jerusalém e reconstroem um novo Templo (segundo) no ano de 515 aC.
Ocorreu no século IV aC a invasão macedônica de Alexandre Magno e a helenização daquela região e depois o domínio romano, até chegarmos a Herodes, o grande, rei dos Hebreus.
Herodes empreende a reconstrução de um novo Templo (terceiro), agora com uma estrutura monumental, grandiosa, com muralhas enormes (figura abaixo).
Após a morte de Herodes tem um período de tumulto em Jerusalém, com a colocação da Judéia sob o governo direto de Roma, tendo Herodes Antipas sucedendo-o como governador da Galiléia.
Quatro anos depois nasce Jesus e no ano 70 de nossa era há uma grande rebelião dos judeus contra os romanos, por questões tributárias, sendo que os romanos destroem definitivamente o Templo, sob o comando de Tito, filho de Vespasiano, os quais seriam posteriormente imperadores de Roma, depois da morte de Nero.
Este templo também é saqueado e com os recursos obtidos da venda de suas jóias e tesouros foi construído o Coliseu.
Do Templo da Vida, para o templo da morte.
Ocorre, assim, a diáspora, com a dispersão dos judeus pelo mundo. Permanece ainda um núcleo de Zelotes que resistem no alto de uma colina denominada Massada, próxima a Jerusalém, com mais de 400 metros de altura. Massada acaba sendo vencida por Flávio Silva após três anos de lutas, conquista esta que se transformou em “vitória de Pirro”, pois todos haviam se suicidado.
Uma digressão histórica e especulativa
É sabido pela Teosofia que o fluxo migratório das sub-raças (entendendo-se raças por ciclos civilizatórios), veio do oriente a 4ª sub-raça personificada pelos celtas que adentram à Europa. Os celtas ou gauleses, tendo como símbolo do Galo, foram movidos (certamente de formas inconsciente) rumo ao Ocidente. Neste processo, eles passam por várias terras, onde deixam suas marcas, principalmente nos nomes de regiões e localidades que fundaram.
A Galiléia no Oriente Médio, a Galícia situada no oeste da atual Ucrânia e sul da Polônia, a Gália belga e francesa, a Galícia espanhola, assim como a própria Irlanda e na Grã-Bretanha o País de Gales. O porto ou porta da Gália, em terras lusas, também foi importante assentamento deste povo, tendo ali encontrado uma porta para o Ocidente além mar.
Parece inequívoco a busca desse povo pelo ocidente, não tendo avançado mais pelo obstáculo imposto pelo grande oceano que se colocava à frente.
É igualmente sabida, como já mencionada, a aliança entre os Hebreus e os Fenícios, assim como a real fama que esses últimos tinham como grandes comerciantes e mestres das navegações, tendo fundado diversas colônias mercantes, como Cartago no norte da África e entrepostos na Grã-Bretanha e na própria Gália continental.
No livro I Reis 22:10 é dito “Porque o rei (Salomão) tinha no mar uma frota de Társis, com a de Hirão; de três em três anos a frota de Társis voltava, trazendo ouro e prata, marfim, bugios e pavões”.
Diodoro Sículo, historiador romano do I aC, em sua História Universal menciona a viagem dos fenícios que teria ocorrido há mil anos atras, ao estarem navegando pela costa africana, foram arrastados pelas correntes após uma calmaria, durante alguns dias, mar adentro, até avistarem uma grande ilha, onde a exploraram, relatando sobre o suave clima, o solo extremamente fértil, com árvores valiosas, aromáticas e boas para construção, com rios navegáveis, e grandes fontes de água doce.
Alguns pesquisadores acreditam tratar-se da Ilha de Madeira, porém não pode ser pois a mesma não tem rios navegáveis.
Naturalmente identificamos este local com o que vem ser posteriormente denominado Brasil.
Existem muitos indícios da presença dos fenícios, como as inscrições na Pedra da Gávea no Rio de Janeiro e muitas outras evidências, como o nome do Rio Solimões, uma corruptela de Salomão e a própria região denominada posteriormente de Amazonas, numa alusão às mulheres guerreiras, que cavalgavam com maestria, citadas por Homero no seu relato sobre a guerra de Tróia.
Aliás, a própria mítica cidade Tróia que foi durante muito tempo tida como lenda, hoje foi desvelada, e realmente existiu. A guerra relatada por Homero não só foi real, como estabelece a existência de uma aliança muito mais ampla dos Fenícios e Hebreus, juntamente com os Troianos, para conter invasões expansionistas dos gregos na Ásia Menor. A cidade de Tróia fica exatamente em local estratégico e foi usada como proteção, para conter o avanço dos gregos.
Daí entendermos a sandice de Alexandre por destruir totalmente Tiro, pois o sentimento de vingança nutrido por séculos era muito grande.
A vinda dos fenícios, hebreus e amazonas, assim como outros povos como os etruscos parece-me ser concreta, sendo que a lendária mina do Rei Salomão que até hoje não foi encontrada talvez esteja mesmo aqui.
Com a transferência da nobreza para Cartago, quando da invasão de Alexandre, acredita-se que se perderam os mapas da rota, sendo que a “ilha paradisíaca” nunca foi colonizada, sendo reservada para um futuro e eventual êxodo.
Fica uma indagação: Os Hebreus também não teriam cópias da rota? E as tendo, onde guardariam senão nos subterrâneos do Templo.
Os antecedentes cristãos
A história do cristianismo começa com Saulo, Paulo de Tarso, assim como Pedro, que empreendem o processo de evangelização até Roma.
Roma, depois de um grande período de resistência na aceitação da fé católica, acaba se capitulando, com Constantino sendo o primeiro imperador a se converter ao cristianismo, por volta do ano de 300 dC. Nesta época o império romano já tinha sido dividido por Diocleciano em Império do Ocidente e Império do Oriente.
Constantino vai à Jerusalém e reconstrói muitas igrejas, inclusive a do Santo Sepulcro. Constrói sobre a cidade de Bizâncio uma nova cidade, que vem a ser Constantinopla, no Estreito de Bósforo.
Depois da morte de Constantino, sucede Constâncio, seu filho, e aí o cristianismo se instala no império romano, disseminando por toda a Europa.
Com a queda do império romano no ocidente, por volta do ano de 476, determinado pelas invasões bárbaras, o império romano do oriente continua, com sede em Constantinopla, enquanto se iniciava o período medieval.
É de destacar que no ano de 520, o surgimento por Bento (São Bento de Núrsia) do primeiro mosteiro, dando origem aos Beneditinos. Outro destaque que fazemos é Santo Agostinho, importante filósofo que pregava a legitimidade da guerra santa, mesmo antes de existir a Jihad que é a guerra santa muçulmana.
Esse universo monástico foi logo disseminado pela Europa, pois o mundo ocidental estava mergulhado no caos. A estrutura social na Europa, depois da queda do império romano ficou totalmente desarticulada.
Surge em substituição ao domínio romano, a estrutura feudal. São senhores que praticam a vassalagem que é a submissão em troca de proteção. A vassalagem não era vitalícia, poderiam existir pactos por tempos determinados. Eram contratos tácitos.
O que imperava era essa estrutura de poder. Uma estrutura que não edifica nada, com as pessoas confinadas aos interesses locais. E a vida era realmente muito amarga. As pessoas não tinham perspectivas de se desenvolverem, pois não havia trabalho. Quando muito viviam da plantação de subsistência, cultivada nos campos, desde que os senhores das terras permitissem. Não restavam muitas opções. Então, a vida monástica tem um apelo bastante interessante.
Os mosteiros beneditinos se disseminam, tendo como principal centro Cluny, na região da Borgonha.
De Cluny sai uma dissidência, onde se funda outro mosteiro chamado Citeaux e junto com Citeaux o mosteiro de Clairvaux (vale iluminado), isso por volta do ano de 1098.
Essa é a ordem dos Cistercienses, que não existe mais, sendo o que restou são os trapistas.
Nessa época temos o Abade de Citeaux, que é um saxão, de nome Estevão Harding e em Clairvaux temos Bernardo, que vem a ser o São Bernardo de Clairvaux. Os dois vão ter um papel preponderante na história dos Templários.
O antecedente islâmico e o templo da rocha
Como havíamos comentado, Hagar e seu filho Ismael foram expulsos para o deserto e daí desenvolveu-se o povo árabe, dando origem muito posteriormente ao islamismo, pois os árabes creem serem descendentes de Ismael e, portanto, seguem o mesmo patriarca Abraão.
No ano de 570 nasce em Meca, Maomé, que aos 40 anos teve a revelação do Alcorão pelo Arcanjo Gabriel e fundamenta a religião islâmica, a qual é rapidamente disseminada tanto para o Oriente, chegando à Índia, como para o Ocidente, tomando todo o Norte da África.
Os árabes têm um grande poder em subjugar outras culturas, porém eram flexíveis na absorção dessas culturas. Eles fazem transcrições de compêndios filosóficos, médicos, matemáticos, astrológicos, enfim, todo o conhecimento humano disponível, incorporando à sua própria cultura.
Maomé morre no ano de 632 e quem o sucede é seu sogro, Abu Bakr e após dois anos da morte deste, o califado é transmitido a Omar, genro de Maomé, determinando a divisão entre sunitas (seguidores das sunas, que são as palavras do Alcorão) e xiitas, ou aqueles que seguem a figura do Imã (linhagem consanguínea de Maomé, portanto de sua filha primogênita Fátima e seu Marido Ali, legítimo herdeiro na condução do império). Essa dissidência perdura até hoje.
A luta de Maomé se desenvolve em Meca e Medina e não na Palestina, porém na 17ª Sura do Alcorão, intitulada "A jornada Noturna", é relatado que Maomé, em sonho, foi carregado à noite do templo sagrado (em Meca) para o templo mais remoto (Al-Aqsa), cujo local foi identificado como sendo em Jerusalém no Monte Moriá, local sagrado, onde na visão dos árabes foi o local onde Maomé iria sacrificar Ismael e não Isaac.
Omar ordena a construção de uma Mesquita no monte Moriá, sendo que no final do século VII, vai ser
reconstruído o novo templo (quarto), que é o templo da rocha, o templo de Al-Aqsa, que se encontra intacto até hoje.
No ano de 710 na Espanha, o reino de Toledo é usurpado por um déspota visigodo chamado Rodrigo, que toma o reinado, após uma luta com Áquila, o filho do rei que havia morrido. Áquila se refugia na região do norte da África e pede ajuda ao Califa.
Naturalmente os árabes já interessavam em invadir a Europa e atendendo ao apelo de Áquila foi feita a invasão da Península Ibérica e adentram em solo europeu chegando até a França em 732, mas são derrotados pelo Carlos Martel.
Os reis francos que dominavam essa região eram da dinastia dos Merovíngios, começando com Clóvis e indo até Carlos Martel. Carlos Martel, encorajado pelo papa, efetua um golpe de estado e acaba com a dinastia merovíngia e funda uma nova dinastia que são os Carolíngios. O seu filho Carlos Magno, rei, vai empreender toda uma luta contra o Islão na Europa.
Por ora a presença dos Árabes causa ainda mais o aprofundamento do processo feudal no restante da Europa.
A proclamação das Cruzadas e os templários
Os muçulmanos de origem turca, a partir de 1070 passaram a investir contra o Império Romano Oriental fazendo com que o Imperador Aleixo recorresse ao Papa Urbano II e aos cristãos católicos do ocidente, em busca de ajuda, embora já tivesse ocorrido em 1054 o Cisma, pois por questões teológicas entre o Patriarca de Constantinopla Miguel Cerulário e o Papa Leão IX, determinou-se a separação entre os católicos e ortodoxos.
Atendendo ao pedido de Aleixo, Urbano II convoca um Concílio (de Clermont), onde se decide pela realização da cruzada. Urbano acreditava que isso poderia significar uma mobilização benéfica para tirar a sociedade, principalmente a nobreza, da estagnação em que viviam, com uma motivação religiosa, que era a luta contra os infiéis do Islamismo, uma guerra santa em defesa da cruz, dentro da visão de Santo Agostinho.
A ideia de fazer uma cruzada com os nobres acaba tendo um apelo muito popular, saindo do controle. A grande massa se alista na cruzada. Eles tomam a cruz. É o termo que se usa. Eles confeccionam a cruz em pano e quem quisesse aderir à cruzada pegava essa cruz de pano, incorporando-se ao exército libertador.
Isso acaba se constituindo na 1ª Cruzada, em 1096. Então, sai essa grande multidão, insana, para libertar Jerusalém e a buscar o Santo Graal. Eles não fazem muita distinção entre raças, pois nunca tinham visto um muçulmano. Nesta marcha eles acabam cometendo absurdos, saqueando e matando na Renânia uma comunidade inteira de judeus.
Essa multidão em sua caminhada depois passam ao largo de Constantinopla e adentram à Anatólia, tomam Edessa (atual Urfa na Turquia), passam pelo atual contornando os montes Tauro e tomam Antioquia e posteriormente capitulam Jerusalém em 1.099 [a custa da morte de toda a população], nomeando o primeiro rei latino de Jerusalém, Balduíno I.
Voltemos agora aos mosteiros de Citeaux e Clairvaux.
Vimos que temos dois personagens. Estevão Harding e São Bernardo. Acredita-se que eles viam nessa reconquista da Terra Santa, a possibilidade de trazer à luz algumas informações sobre o Templo que foi destruído por ocasião da guerra com os romanos, no ano de 70 dC.
Eles travam contatos com rabinos que viviam na Europa e pedem que façam transcrições de textos escritos em hebraico antigo para o francês sobre o assunto, que teriam sido obtidos por ocasião da presença dos primeiros cruzados em Jerusalém. Não se sabe o que continham nestes textos, mas é possível que revelassem informações do que existiam de fato no Templo, principalmente sob a edificação, em catacumbas, porões, passagens, guardando os tesouros dos hebreus, que, quando da diáspora, poderiam ter ficado ocultos.
Aquele mosteiro de Clairvaux foi construído em terras doadas em 1090 por um nobre chamado Hugo de Champagne, que fica na região de Champagne na França, portanto ele era íntimo de São Bernardo.
Hugo de Champagne, posteriormente, juntamente com outros cavaleiros daquela região, seus vassalos, seguem, dentro do período do período da 1ª cruzada, à Jerusalém, e lá se estabelecem no ano de 1118. Portanto, dezenove anos depois da tomada de Jerusalém. O rei de Jerusalém já é Balduíno II, primo de Balduíno I que já havia morrido.
Então, nós temos entre esse grupo, um cavaleiro, vassalo e parente de Hugo de Champagne, chamado Hugo de Payns, que funda a Ordem do Templo, com mais 8 cavaleiros Balduíno II destina aquele espaço que são as ruínas do Templo, para que eles armem suas tendas. Eles passam a ser chamados de Pobres Cavaleiros de Jesus Cristo e do Templo do Rei Salomão, ou simplesmente Ordem dos Templários.
A Ordem permanece durante nove anos no local e confinada aos nove membros e é certo que eles tenham promovido escavações nessa região e descoberto coisas de grande valor. O que seria? As riquezas dos fenícios? Interessante observar que assim como os fenícios, os futuros Templários se tornariam grandes navegadores, possuidores de grandes frotas.
Nove anos depois, eles voltam à Europa e São Bernardo redige os códigos, que vem a ser o regimento disciplinar dos Templários e é ele quem trabalha junto ao Papa para legitimar como uma Ordem estabelecida.
Os Templários, a partir daí, passam a ter grande poder dentro da Igreja e nas cruzadas.
Existiram oito cruzadas e eles praticamente participaram de todas, exceto da 4ª cruzada, que foi uma cruzada financiada por Enrico Dandolo que se a desviou do caminho cometendo atrocidades por vingança contra Constantinopla.
A Ordem se estabelece como uma estrutura forte, de obediência direta ao papa. Era uma estrutura independente e tinha a seguinte configuração. Tinha o grão-mestre; no segundo nível os comendadores; tinha uma classe dos Cavaleiros e outra de Clérigos, com bispos, sacerdotes, diáconos e duas classes de servidores. Servidores militares, constituídos por sargentos e soldados, e servidores de ofício, os artífices e pessoal de apoio. Eles dão nomes latinos, frater servientes armigeri e frater servientis e offici. A classe dos cavaleiros assim como os clérigos eram constituídas por nobres.
Todos os integrantes faziam três votos. Votos de obediência ao grão-mestre e ao Papa, voto de castidade e voto de pobreza.
Esses são os Templários. Envolve todo esse universo de integrantes. Não são somente os cavaleiros. Os cavaleiros é o que há de mais visível na Ordem e o mais importante, pois tudo girava em torno dos cavaleiros.
Estes três votos fizeram com que essa estrutura se tornasse monolítica, pois eles não deviam satisfação a mais ninguém que não fossem ao grão-mestre e ao papa. Foram estabelecidos regras e capítulos internos que tratavam de assuntos que só diziam respeito a eles. Por isso que dizem que existia uma escola de iniciação interna. Isso não se sabe. Alguma coisa eles sabiam, porque eles levam para a Europa um conhecimento esotérico muito importante. A construção das catedrais góticas, repletas de simbolismo esotérico, foi coisa dos Templários.
Essa Ordem acaba se tornando muito poderosa até pelas sucessivas tomadas de várias cidades e pilhagens dos bens dos conquistados. Foram muitas as cruzadas. Os mulçumanos contra-atacavam. Jerusalém e as demais cidades caíram nas mãos dos cristãos e dos mulçumanos, várias vezes.
Além disso, os Templários eram financiados com recursos obtidos para a realização das cruzadas.
A segunda cruzada, inclusive, é importante porque surge uma figura de alta expressão para o mundo árabe que permanece no imaginário árabe até hoje. Nasce em Tikrit, de família curda, Salah ed-Din. Para os latinos, Saladino.
Saladino consegue arregimentar todo o mundo árabe, inclusive unir sunitas e xiitas na luta contra os cristãos. Ele estabelece o domínio em Jerusalém.
Ele vai ser só derrotado e não totalmente, por Ricardo Coração de Leão, que sai da Inglaterra, para lutar na 3ª Cruzada. Mas ainda assim, Jerusalém continua sob domínio muçulmano.
Saladino era tido como magnânimo. Até pelos latinos que fazem referências históricas dessas características de Saladino. Assim como Ricardo Coração de Leão também.
Saladino e Ricardo fazem um pacto, que permanece durante muitos anos, que consistia na permissão para que cristãos peregrinos adentrem a Jerusalém e até a fazerem a prática do cristianismo, restabelecendo as igrejas. Foi um período de certa harmonia entre os dois lados.
Existiu uma Ordem que foi criada antes dos Templários que foi os Hospitalários, antes ainda da 1ª Cruzada, pelos mercadores de Amalfi. Amalfi era uma cidade que existia e existe até hoje, perto de Salerno e de Nápoles. Esses mercadores faziam um intenso comércio com a região do Oriente Médio e eles têm a permissão dos muçulmanos para se estabelecerem em Jerusalém através dessa Ordem, mas não tinha natura mente finalidade militar. Era uma Ordem que visava a atender aos peregrinos doentes. Era um Hospital. Essa Ordem posteriormente se transforma em militar, depois a 1a Cruzada.
Os Templários participam de concílios, como o de Latrão, de Lion. Eles tinham assento. E poder de decisão.
Eles detêm domínio, não só sobre recursos materiais como em espécie. Os cofres dos Templários eram realmente abastados e por isso eram acusados de serem egoístas. Eles não eram avaros. Eles tinham obras assistenciais de ajuda aos pobres.
É interessante notar que muito dos instrumentos que nós utilizamos no meio financeiro são criações dos Templários, como a Letra de Câmbio. O fato da Ordem dos Templários ter prosperado financeiramente é o que determinou a sua queda.
A dissolução da Ordem dos Templários
A França, na época dos fins das cruzadas estava dominada pela dinastia capetíngia.
A 7ª Cruzada foi promovida por Luiz IX, canonizado posteriormente como São Luiz. O neto de São Luiz, Filipe IV, o Belo, tinha empreendido uma seqüência de guerras contra a Inglaterra e estava deveras endividado. Depois dos aumentos de impostos e uma revolta da população ele expropria os bens dos banqueiros lombardos e dos judeus, expulsando-os da França.
Como essas medidas não resolveram a dramática situação financeira ele se volta contra os Templários, que a essa altura já estavam enfraquecidos. Com o final das cruzadas no ano de 1290 e a conseqüente expulsão de todos europeus da Terra Santa, os Templários transferiram sua sede de São João do Acre para a ilha de Chipre, mas eles não tinham mais aquela presença militar relevante. Isso abalou a posição e o prestígio dos Templários.
O Papa então era Clemente V, um papa francês que devia sua posição ao rei Filipe, pois o Papa anterior Bonifácio fora praticamente deposto e morto pelo rei. O papado tinha sido transferido para a França em Avignon e Clemente era de fato seu subserviente.
O rei Filipe, já havia proposto a fusão dos Templários com a Ordem dos Hospitalários, o que foi rejeitado por Jacques de Molay, então o Grão-Mestre do Templo. Jacques de Molay era muito determinado, fiel ao Papa e defensor da Ordem, porém era igualmente inflexível, teimoso. Não negociava. É de se notar que os cavaleiros, de forma geral, eram iletrados. Jacques de Molay, por exemplo, era analfabeto. Coisa que era comum naquela época.
Foram feitas acusações contra os Templários, através de um ex-cavaleiro, chamado Esquieu de Floyran, que estava particularmente interessado na desmoralização da Ordem. Na Maçonaria, até hoje, existe um rito em que esse traidor é execrado, assim como Jacques de Molay é enaltecido.
Essas acusações eram graves e consistia entre outras coisas a prática de sodomia, de homossexualismo, adoração ao diabo, práticas de cultos hereges a uma misteriosa cabeça, a cabeça de baphomet. Nas práticas de iniciação os participantes eram obrigados a cuspirem na imagem de Cristo e a pisarem na cruz.
Todas essas práticas, segundo ele, foram introduzidas por um Grão-Mestre, que esteve sob prisão dos muçulmanos e que teria feito por promessa que foi a condição para sua libertação.
A prática de homossexualismo poderia até ter algum fundamento, mas não de forma institucionalizada. Poderiam ter ocorrido casos isolados, como ocorrem hoje nos meios de agrupamentos eclesiásticos. Mas não se justificaria, pois existia um rígido código entre os integrantes da Ordem, onde um vigiava o outro.
Quanto à cabeça, há quem afirme que era a cabeça embalsamada de Jesus que fora encontrada em Jerusalém ou obtida através dos Cátaros ou mesmo, ainda, uma cabeça androide que fora dada de presente pela Ordem dos Assassinos. Essa cabeça era um mecanismo que respondia a perguntas formuladas. O rei da Sicília, Frederico II, que era ocultista, teria tido também uma dessas. Porém tudo isso são especulações e lendas.
Poderia haver sim um ídolo reverenciado pelos Templários em seus rituais, mas não diabólico. Talvez uma relíquia.
Lembremos que a maçonaria, influenciada pelo universo templário, também foi acusada por muito tempo de cultuar o mesmo baphomet e de ter pacto com o demônio.
De qualquer forma, Jacques de Molay é convocado a ir de Chipre à França e quando ele chega a Paris é preso, em 1307. Imediatamente, sob influência do rei, o papa determina que seja cumprida, por todos os reis de todo o mundo cristão, a ordem de prisão de todos os Templários, o que é obedecido por todos.
Foram abertos dois processos contra a Ordem. Um dirigido pelo rei contra os presos, o outro conduzido pelo papa.
Foram realizadas torturas brutais e as confissões arrancadas à força. Essas confissões foram utilizadas como peças de acusação.
Jacques de Molay confessou todas as práticas, exceto a de homossexualismo. Mas Jacques de Molay era pouco fluente, não era articulado e sozinho resolve fazer sua defesa, o que é um desastre. Porém fica evidente de que as confissões foram obtidas a ferro e começa a se esboçar alguma defesa, pois aqueles que investigam os autos verificam que as confissões não são unânimes.
O rei Filipe, diante da possibilidade de uma derrota, autoriza, sem qualquer julgamento, a execução na fogueira de quarenta templários, o que faz com que aqueles que insistem na inocência mudem de ideia.
Surge um Templário da classe dos clérigos, Pedro de Bolonha, que também estava detido, que decide articular um processo de defesa consistente. Ele era esclarecido e de fato conseguiria reverter o processo, mas ele misteriosamente desaparece.
A condenação da Ordem realmente se realiza, com o confisco de todos os bens dos Templários, a sua extinção em 1313 e a execução na fogueira de Jacques de Molay, no ano de 1314.
Porém, o rei pouco se beneficiou dos pertences dos Templários, pois muito foi transferido para a Ordem do Hospital, parte dos bens foi para a Igreja e foi constatado que não havia muito que confiscar em termos de dinheiro ou tesouros.
Os Templários se refugiaram maciçamente em três reinos, onde foram tratados com condescendência. Inglaterra, Escócia e principalmente Portugal. Em todos os países eles são posteriormente considerados inocentes.
O rei Dom Diniz, não aceita as acusações e estimula os Templários a se fixarem em Tomar, Portugal e com os recursos da extinta Ordem ele cria em 1318 a Ordem de Cristo, que vem a ser a sucessora do Templo. E a partir daí é que começa cumprir o grande legado.
O Legado – O início da grande obra
É nessa época que começam a serem plantadas as primeiras árvores que serão abatidas e utilizadas, depois de cem anos, na construção das naus e caravelas. A partir daí é fomentado um plano de estímulo às navegações com a posterior fundação da Escola de Sagres, com o desenvolvimento de moderna tecnologia de navegações.
Os Templários detinham, paralelamente ao conhecimento esotérico, muitas informações preciosas. Eles conheciam o astrolábio e a bússola, com as tábuas de declinação magnética, pois eram exímios navegadores. O pólo magnético não é o pólo norte, mas sim existem declinações que são fundamentais para quem navega e eles passam esse universo de conhecimento à nova Ordem.
O que se verifica é que, no plano oculto, existiu todo um planejamento traçado para que, com esses acontecimentos, viesse a ser descoberto um novo mundo, sendo que o Brasil tem um papel preponderante em todo esse processo.
É certo que a saga dos Templários, desde sua fundação em Terras Santas até o seu estabelecimento em Portugal, não tenha sido produto de um plano traçado de forma consciente pelos participantes de todo esse processo, mas, é certo também que nos planos superiores da espiritualidade algo foi estabelecido.
E Portugal foi a nação escolhida. Por quê?
Por várias razões. Portugal era um país já com uma vocação marítima. Tinha um povo receptivo, onde já havia promovido uma miscigenação com os mouros, criando, portanto, as raízes necessárias para a formação de uma nação multirracial, além do que era um país de certa forma jovem e não tinha grandes opções de expansão, a não ser para o mar.
Nos dois séculos seguintes, a pequena Portugal se torna a principal potência marítima, com tantas conquistas e descobrimentos importantes, que determinaram a virada das páginas da história.
E por que a glória da descoberta das terras novas aqui na América não foi de Portugal?
Vejam que coisas estranhas! Quantas perguntas sem respostas históricas:
Por quê Colombo ofereceu seus serviços à coroa Espanhola [inimiga de Portugal] e não a Portugal que estava mais preparada para empreender essa viagem?
Por quê Colombo se ofereceu à coroa espanhola, quando seu sogro Bartolomeu Perestrello foi Grão Mestre da Ordem de Cristo? E se ele próprio era também membro da Ordem de Cristo?
Por quê ele navega sob a cruz templária estampada nas velas de Santa Maria, Pinta e Niña, se essa cruz tinha sido incorporada à Ordem de Cristo e era seu próprio símbolo e não tinha nenhuma relação com a Espanha?
Por quê Colombo atribuiu nomes aos locais em alusão a nomes portugueses, como Cuba, que é uma cidade do Além Tejo?
Por quê Colombo na sua viagem de regresso, após a descoberta das terras novas, faz escala em Portugal antes de se dirigir à Espanha?
E por quê não foi preso?
Tudo leva a crer que Colombo estava a serviço de Portugal, com a firme determinação de que induzisse a coroa Espanhola a tomar posse das terras localizadas ao Hemisfério Norte.
Por quê não tudo para Portugal?
Porque Portugal tinha acabado de sair de uma guerra contra a Espanha e isso poderia reacender as desavenças.
Tanto a existência das terras ao sul era conhecida que o Tratado de Tordesilhas foi assinado em 1494.
O fato é que as terras ao sul, especialmente o Brasil foram destinadas a Portugal, para que aqui florescesse uma nova nação.
Então, o que vemos nesses quatro mil anos é uma história de segregacionismo e guerras sem fim, de intolerância racial, religiosa, que permanece até os nossos dias, porém todo processo de mudança é gradual e sempre quando um ciclo se fecha outro já vem sendo preparado e acredito que esse novo ciclo tem origem aqui, no Brasil.
Assim, a mensagem que essa história nos passa é de esperança.
Nós temos um grande compromisso em relação ao Brasil, pois há um nobre destino a cumprir, um destino para toda humanidade.
Porque não há no mundo uma nação com as características do Brasil.
Aqui é um cadinho de raças. É comum numa mesma família haver membros de várias etnias, religiões e crenças e isso denota uma característica muito peculiar e necessária à formação da gente do novo milênio, da nova civilização. O Brasil é marcado pela tolerância. Pela comunhão. Pelo sentimento de unicidade. É isso que encontramos aqui.
É claro que temos problemas sérios que devem ser resolvidos e serão no seu devido tempo. Agora, paradoxalmente, a raiz de todos esses problemas está justamente no que o brasileiro tem de melhor, que é a tolerância. É o uso distorcido da tolerância. É a permissividade. Pois se tudo pode, tudo é aceito.
Mas haverá o dia em isso será direcionado positivamente, quando todos perceberem a força do que essa faculdade pode realizar.
Um país que tem a extensão territorial que o Brasil tem, uma só língua falada nos diferentes rincões, entendível a todos, água em abundância, sol o ano inteiro, e seu povo maravilhoso, só pode cumprir seu ideal.
Está chegando o momento em que isso será a diferença e passaremos a ser a referência para a humanidade, a ser a própria humanidade, pois o Graal não está perdido. O Graal é aqui.