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Os Sete Princípios de Hermes - Ensaio

Thoth – O Hierofante

Antes de abordarmos propriamente os princípios, vamos fazer uma contextualização histórica, pois o que se atribui a Hermes é a obra de um homem divino que o antecede, de nome Thoth.

É atribuída a Thoth a “invenção” da astrologia, a descoberta da alquimia, da música, da medicina, da criação dos hieróglifos, escrita cujo significado ficou perdido durante muito tempo. É atribuída também a fundamentação de todas as ciências incluindo as ocultas.

Ele foi o grande hierofante que teria dado início a todas as escolas de iniciação que afloraram no Egito, como a de Tebas, que é hoje Luxor, onde estão as ruínas de Karnac.

Estas escolas de iniciação que eram centros onde se educavam as pessoas na ciência da vida, transmitindo-lhes o conhecimento essencial que as preparavam para o processo de torná-los conscientes da unicidade e vivê-la em sua plenitude, ou seja, despertos e iluminados.

É difícil precisar a data que Thoth teria vivido, mas acredita-se que é muito mais antigo do que se imagina.

Passados alguns séculos, surge na Grécia o desenvolvimento do pensamento helênico, que nos legou os valores da civilização ocidental. Muitos historiadores atribuem à Grécia o celeiro desse pensamento, mas analisando com atenção veremos que os gregos buscam todo esse conhecimento no próprio Egito.

Esse período começa aproximadamente no ano de 600 aC, com Tales de Mileto, que foi o primeiro grande filósofo conhecido, assim como Anaximandro, Heráclito, Pitágoras e todos aqueles que são considerados pré-socráticos.

Estudando as obras destes filósofos percebe-se que eram iniciados nessas escolas de mistérios no Egito, assim como na própria Grécia em escolas de mistérios que se formaram pela influência de escolas egípcias muitos mais antigas, como de Tebas, Heliópolis e Saís e Mêmphis [Ver mistérios de Isis].

Na biografia de Pitágoras, por exemplo, nós sabemos que ele foi iniciado ainda jovem na escola de mistérios de Tebas. Depois ele andou pela Ásia, indo até a Índia. A sua forma de pensar foi profundamente estruturada pelo hermetismo.

Platão, depois da morte de Sócrates, também foi iniciado nessas escolas, principalmente em Elêusis, na Grécia [Demeter e Perséfone].

Heráclito de Éfeso cunhou a frase de que "Nada existe de permanente, a não ser a mudança". O conceito da impermanência, da mutabilidade está presente em outras civilizações e culturas, sendo que o próprio budismo se alicerça no princípio da mudança constante. Este também é um princípio de Hermes.

Hermes - Mercúrio

No panteão grego nós temos entre os vários deuses, um deus chamado Hermes, filho de Zeus com Maya. É interessante vermos que Maya é um nome que aparece em outras culturas, sendo mãe de Sidharta, assim como Maria mãe de Jesus. Maya e Maria têm um radical comum que é "mare", mar, água, sendo a fonte da vida.

Segundo a mitologia grega, Hermes, ainda na primeira noite após o seu nascimento, se desvencilha de suas fraldas, sai da caverna onde teria nascido e rouba o gado pertencente a Apolo, escondendo-o. Mas em seguida é descoberto e levado à presença de Zeus, onde Apolo exige reparações. Na presença de Zeus e Apolo, Hermes os encanta com toda a sua sabedoria, fazendo com que Zeus o declare como um novo integrante do Olimpo.

Então, Hermes, para a cultura grega, já era considerado como um deus muito popular, ligado à sabedoria, à música, à ciência.

Quando os gregos tomam contato com a cultura egípcia e conhecem os atributos de Thoth, logo fazem um paralelo com o seu Hermes, por isso que toda a obra de Thoth é atribuída a Hermes. Mas não ao Hermes mitológico. Para diferenciar do Hermes mitológico é agregada a palavra Trismegistos, que significa três vezes grande.

A Grécia, depois, passa por transformações, surgindo Sócrates, Platão, Aristóteles, que é um período intermediário do pensamento grego, a chamada fase clássica, e depois da morte de Aristóteles, tem a influência política de Roma, onde os romanos absorvem todos esses valores do legado grego e acabam dando outros nomes aos deuses. Hermes passa a ser Mercúrio.

A imagem de Thoth que é representado com corpo de homem e cabeça de íbis foi helenizada (Hermes) e posteriormente romanizada (Mercúrio), mas foram mantidos os mesmos atributos. Estão sempre segurando o caduceu ou a cruz ansata que é a chave do processo que leva o iniciado à iluminação.

Etimologicamente, a palavra mercúrio vem de mercer, que significa mercantilizar, comercializar, por isso que ele acaba vindo a ser posteriormente associado ao comércio, assim como simbolizando diferentes profissões, como os médicos e contabilistas. Mas o caduceu não é essa visão aparente. Ele tem uma representatividade muito profunda, mas não cabe o seu detalhamento agora.

O Caibalion

Esse conhecimento hermético ficou muito tempo obscurecido, porque não se sabia o que aqueles hieróglifos diziam. Alguns escritos árabes, depois da invasão na Europa, chegaram ao conhecimento de alguns estudiosos, como, por exemplo, a Tábua Esmeraldina, tendo sido revelada através de uma transcrição da escrita egípcia para o árabe e do árabe para o latim e foi assim que nos chegaram esses rudimentos.

A grande revelação desse conhecimento se deu depois da invasão napoleônica no Egito, ao final do século XVIII [virada do século]. Foi descoberta uma pedra que tinha um mesmo texto escrito em grego e em hieróglifos. A chamada pedra de Roseta, que foi levada posteriormente para Paris e um estudioso de diversas línguas, chamado Champollion. Ele fez a transcrição conseguindo decodificar os significados dos hieróglifos, permitindo a partir daí se desvendar um conhecimento até então cifrado.

É atribuída a Hermes a autoria de uma grande quantidade de livros, aproximadamente duas mil obras, mas não conhecidas, talvez porque muitos desses livros se perderam. Na antiguidade era hábito os discípulos escreverem e atribuírem a autoria ao seu Mestre, podendo justificar um grande número de obras de um mesmo autor. Clemente de Alexandria, contemporâneo dos integrantes da Escola Neo-Platônica, isso por volta de 200 dC, atribui 56 livros a Hermes; livros de medicina, filosofia e ciências das mais variadas.

Os sete princípios que serão abordados estão descritos em uma obra chamada "O Caibalion", que na realidade é um livro editado no século XIX, pelos três iniciados, que não são identificados, mas que contém a compilação de aforismos milenares.

A palavra Caibalion é composta por duas palavras: Cabala que indica a tradição e Ion, ente superior manifestando-se. Então, é a manifestação de um preceito, de uma tradição superior.

São sete os princípios contidos no livro e estes axiomas são bastante sintetizados, embora o texto vá explicá-los tornando-os mais compreensíveis ao estudante.

Mentalismo

O primeiro princípio diz que "O Todo é mente. O Universo é mental".

O que é o Todo? Nós poderíamos dizer que é o espírito. Mas o que é espírito? Não temos condição de defini-lo.

O Todo também não é o Universo, porque sabemos que o Universo está em constante mutação, em transformação; além de dar idéia de limitação.

O Todo não pode ser mudado e o Universo está contido no Todo. O Todo não pode ser separado se não ele não é o Todo; então o Universo é o nada? Não é racional, pois o Universo existe; nós estamos aqui.

Não faz muito nexo esta criação ter sido feita pelo Todo. Ele vai criar o quê? O Todo vai criar para não ficar sozinho?

O Todo criou algo para não ficar sozinho? Para ser reconhecido? Para se reconhecer? Isso não faz sentido, porque se Ele já é o Todo, Ele já se reconhece, tudo já está contido Nele.

É meio pueril esse tido de argumento, mas é necessário para que possamos fazer um exercício do que vem a ser o Todo ou pelo menos o que nós podemos imaginar o que Ele vem a ser.

Para tentar entender este princípio temos que buscar aquilo que nós conhecemos, fazendo um paralelo com o homem. Como o homem cria as coisas? Ele cria através de elementos que vai buscar em seu meio onde vive e os transforma; essa é uma concepção para criação. Mas esta concepção para a Criação do Todo não se sustenta, pois o Todo não pode tirar nada que esteja fora Dele. Esta linha de criação humana não vale. Outro exemplo de criação humana é a concepção de um filho, mas para conceber um filho precisa-se de uma parceira ou de um parceiro; vai-se buscar fora também, não sendo aplicado.

O único tipo de criação possível para o ser humano, que não depende de elementos externos é a criação mental. O homem pode fazer uma criação mental!

E aí tem uma extensão desse primeiro axioma que diz "Enquanto o Tudo está no Todo, é também verdade que o Todo está em Tudo".

Por isso que a palavra hermética tem esse significado: selado, fechado, confinado, mas a palavra hermenêutica tem por significado o ato de interpretação das palavras. Ao mesmo tempo em que está lacrado, fechado, também revela, desde que se tenha “olhos” para ver.

Façamos um exercício: Pedro resolveu escrever um livro. Ele elabora o roteiro, as situações e cria seus três personagens: João, Maria e José. Ele resolve adaptar esse livro para ser apresentado em uma peça teatral. O todo está em tudo e o tudo está no todo. Ele criou mentalmente, materializou em uma unidade e podemos dizer que o João é parte de Pedro, pois é sua criação. O tudo [João, Maria e José] está no todo, mas não individualmente. O João não pode falar "Eu sou Pedro", mas sim "Eu sou parte de Pedro", parte do que Pedro pensa.

Então para chegarmos, pelo método racional, à conclusão do que Hermes quer dizer com esse axioma.

Existiu um filósofo holandês que viveu no século XVI chamado Spinoza, filho de pais portugueses, judeus. Benedito Spinoza. Ele foi muito perseguido por defender esse ideia, apresentada no seu livro chamado "Ética". Ele foi tido com ateu. O próprio budismo, assim como a teosofia, também se alicerça nesse pensamento, que é uma idéia diferente da concepção da criação nos moldes da gênese judaico-cristã.

A Divindade, então, é imanente, estando presente em toda a manifestação da vida, qualquer que seja a sua expressão. Não é um Ser, mas um princípio, embora não tenha como rotular, nomear e definir.

Está presente no átomo, nas formas minerais, vegetais e expande-se para todas as formas sencientes, envolvendo animais, homens e outras formas desconhecidas, mas que fazem parte do processo de evolução da vida, o processo de evolução da consciência.

Assim, devemos comungar a vida como o todo divino e isto está na base de todas as religiões, pois o que fizeres a um estará fazendo a todos.

Correspondência

O segundo axioma apresenta: "O que está em cima é como o que está embaixo e o que está embaixo é como o que está em cima".

O hermetismo divide os planos de existência em três. Essa divisão é um tanto que arbitrária, pois quando são apresentados planos dá-se idéia de dimensão, ou seja, largura e altura para duas dimensões e profundidade para a terceira dimensão. Então, não é a terminologia mais adequada. Poderia se demonstrado que são camadas como uma cebola, uma dentro da outra, mas ainda assim essa ideia estaria submetida ao conceito de planos. Na realidade esses planos se interpenetram.

Então, são três os planos: físico, mental e espiritual, sendo que cada um desses planos é por sua vez dividido em sete subplanos. Para o plano espiritual não são ditas muitas coisas, a não ser que está relacionado aos adeptos e seres muito elevados. O plano físico vai desde a matéria sólida, líquida e gasosa, atômica, subatômica, chegando até ao nível de energia, calor, magnetismo, forças de atração molecular e a gravitacional. O plano mental consiste no mundo de formas pensamento, envolvendo os elementos, mineral, vegetal, animal e hominal.

É apresentado, ainda, um processo que consiste na infusão e na efusão, ou seja, uma involução e uma evolução. O processo de involução vai desde o plano mais elevado até o ponto axial da materialidade, com a imagem do mergulho na matéria, o anjo caído.

A teosofia apresenta as essências monádicas se materializando em reinos mineral, vegetal, animal e hominal, até atingir o estágio de individualização, ou seja, a volta ao seio do Senhor, que todas as religiões falam. O homem se iluminando e comungando com a Divindade.

É aquela visão anterior do Todo em Tudo é o Tudo voltando ao Todo, mas já divinizado.

Vibração

O terceiro princípio diz: "Nada está parado. Tudo move. Tudo vibra".

Este axioma corresponde ao estado da impermanência. Não existe nada que seja permanente, como já foi mencionado, incluindo os materiais mais resistentes que se possa imaginar, pois todas as coisas têm uma estrutura atômica.

O átomo, na sua forma mais simples, apresenta-se com um núcleo, composto por um nêutron e um próton, de carga elétrica positiva e um elétron de carga elétrica negativa, que circunda o núcleo, que é a molécula de hidrogênio.

A ideia do átomo remonta a uma época da Grécia antiga, estando presente na base do pensamento de filósofos pré-socráticos, como Demócrito [pré-socrático], que é o principal representante dos atomistas. Acreditava-se que o átomo era a última partícula da matéria e essa ideia permaneceu por muito tempo. Até Newton acreditava na indivisibilidade do átomo.

A descoberta da divisibilidade é nova, iniciando-se pelo físico inglês chamado William Crookes, que descobriu a matéria radiante. Ele inventou a ampola de Crookes, que tem um cátodo e um ânodo, de polaridade positiva e negativa que se interagem e produzem raios-X. Em 1895 [descoberta dos raios-X por Roentgen] e a partir desse modelo foi criada a base da televisão. William Crookes, por ser um emérito integrante da Sociedade de Ciências de Londres, foi destacado para investigar fenômenos espíritas no sentido de desmascará-los. Depois de muito estudo e pesquisa ele se tornou um espírita e também membro da Sociedade Teosófica.

As suas pesquisas deram início a todo o desenvolvimento científico que veio a culminar com a fundamentação da física quântica e a descoberta da divisibilidade do átomo, tendo como exemplo a bomba atômica, pois a partir da quebra da estrutura do átomo provoca-se todo um absurdo de destruição.

Então, as partículas físicas de toda a matéria são diminutas.

Se fossemos reunir toda a matéria existente, por exemplo, em um Prédio, unindo somente as partículas de neutros, prótons e elétrons, talvez toda essa matéria não preencheria a cabeça de um alfinete. Assim, mesmo ao nível da materialidade em que vivemos, a matéria é muito tênue, cercada de vazios e é esse vazio que se pesquisa hoje, que se acredita ser o éter.

Poderia se argumentar se eu sou constituído de átomo e qualquer matéria também é formada por átomos e tudo é praticamente vazio, por que minha mão, por exemplo, não passa por dentro de uma parede? Porque minha mão não toca na parede. Parece que toca, mas não toca. Os átomos por serem constituídos de vários elétrons, de carga negativa, determinam a repulsão. Negativo com negativo se repelem.

Apresentamos as três dimensões, quando tratamos do princípio da correspondência e a intensidade da vibração é a que constitui os diferentes planos. Tudo é uma questão de vibração. Quando se diz "Tudo vibra" é isso que se está sugerindo. Quanto mais vibração mais se eleva aos planos superiores. As vibrações mais baixas correspondem a dimensões mais densas.

Por isso tudo está aqui mesmo e não em locais distintos. Os planos se interpenetram vibracionalmente.

A vibração não envolve somente as partículas, mas também no campo considerado vazio [etéreos] e é aí que ocorrem os trabalhos da indução, da telepatia, podendo realizar as transmutações e os milagres.

Polaridade

O próximo princípio diz: "Tudo é duplo. Tudo tem dois pólos. Tudo tem o seu oposto. O igual é o desigual são a mesma coisa. Os opostos são idênticos em natureza, mas diferentes em grau. Os extremos se tocam. Todas as verdades são meias-verdades. Todos os paradoxos podem ser reconciliados".

Consideremos um exemplo: Calor e frio. O que é calor e o que é frio. Não existe um conceito definitivo. O que é calor para um não é para outro.

Na região equatorial do Planeta com uma temperatura de 28º é considera fria. No entanto, nas regiões polares, uma temperatura de 15º positivo é excessivamente elevada.

Agora, no que se refere aos extremos serem muito idênticos em sua natureza podemos dizer que tanto o calor como o frio, queimam.

Consideremos outro exemplo: o bem e o mal. O que é o bem e o que é o mal? Alguém consegue definir? Você pode falar que o bem é ausência do mal, mas não é absoluto.

Consideremos a criatura mais ignóbil, mais pérfida existente no mundo, você poderá encontrar algo de bom nela. No mínimo para os seus filhos ela tem alguma relação de bondade.

Por isso que ele fala que tudo tem dois pólos e seus apostos são idênticos em natureza, mas diferentes em grau. O que diferencia é o grau.

Outro exemplo: coragem e a covardia. Quem diz que coragem é realmente coragem ou é uma forma de não deixar transparecer o medo? Ou o medo revelado é a verdadeira coragem de assumir os seus temores? Não se sabe, pois é relativo e situacional.

Ritmo

O quito princípio diz: "Tudo tem fluxo e refluxo. Tudo tem suas marés. Tudo sobe e tudo desce. Tudo se manifesta por oscilações compensadas. A medida do movimento à direita é a medida do movimento à esquerda. O ritmo é a compensação".

É o equilíbrio e o desequilíbrio.

Podemos imaginar dois pontos eqüidistantes, sendo os dois extremos. Positivo e negativo, para sintetizarmos as polaridades. Tudo se equaciona dentro dessas polaridades. O princípio menciona o fluxo e refluxo.

Tudo vibra dentro de ondas, o que é representado pelo ouroboros, a suástica, a roda de samsara, os manvantaras e pralayas, é a respiração, são as ondas do mar, a maré cheia, a maré vazante, as estações do ano, o batimento do coração.

Esta é uma verdade e é aqui que o trabalho dos alquimistas começa a ser exercido. Como eles fazem a transmutação.

Os alquimistas falavam "Aurum nostrum non est aurum vulgi" que significa nosso ouro não é o ouro vulgar, indicando que a transmutação de chumbo em ouro é metafórica. Eles até poderiam transformá-lo, mas não era esse o objetivo. A pedra filosofal, o lápis, tinha outro objetivo.

Isto é pêndulo. Ele diz que tem um movimento para cima que remete para baixo, o mesmo movimento da esquerda é o da direita.

O desafio é sair desse pêndulo do condicionamento e isso somente pode se processar pela conscientização, sendo que a concentração e a meditação têm papel fundamental.

A psicologia analítica de Jung é toda alicerçada dentro desse princípio. Aliás, os livros em que Jung se baseou para isso foram orientais e ele vai buscar na alquimia também. Os livros são "O Livro Tibetano dos Mortos" e "O Segredo da Flor Dourada", um livro chinês, de preceitos Taoístas.

Ele observa que os pacientes que tinham sucesso no tratamento psicoterapêutico eram aqueles que deixavam as coisas fluírem, ou seja, davam atenção aos símbolos que vinham através do inconsciente, através dos sonhos ou fatos ocorridos que eles davam importância, que ele chamou de sincronicidade. Então, ele pesquisa e descobre que esses elementos [símbolos] são os arquétipos ou conteúdos do inconsciente coletivo.

Imaginemos um esquema onde temos o Consciente e Inconsciente.

Através desse processo, em que você trabalha com os arquétipos e deixa essas mensagens aflorarem, faz com que o consciente ilumine o inconsciente e o inconsciente enriquece o consciente. É um processo de troca mútua de forma que o consciente vai se ampliando.

Por isso que se fala tanto "Vamos-ampliar-o-consciente" ou "Deu-um-salto-de-consciência". São jargões que se usam, mas ampliar a consciência não é assim fácil. Precisa-se trabalhar e muito. Requer muita disciplina.

Podemos dizer que o objeto do consciente é o Self. Com esse processo de enriquecimento do consciente você adquire um processo de individuação, ensinado pela Teosofia. O processo de individuação reduz a presença do ego psicológico e enaltece o Self [Eu Superior].

O trabalho alquímico consiste em ter o domínio do ritmo, porém nunca se neutraliza a oscilação. Reduz-se o ritmo e esse é o trabalho da meditação.

Causalidade

O princípio da causalidade está relacionado com os axiomas anteriores. Diz que "Toda causa tem o seu efeito. Todo efeito tem sua causa. Tudo acontece de acordo com a lei. O acaso é simplesmente um nome dado a uma lei não conhecida. Há muitos planos de causalidade, porém nada escapa à lei".

A causa e o efeito não estão circunscritos somente ao nosso plano físico, onde é exposta na dinâmica newtoniana [Para toda ação existe uma reação de força equivalente em sentido contrário]. A lei da causa e efeito envolve planos transcendentes e quando não se conhece a origem das causas, dá-se o nome de acaso. Se consultarmos um dicionário da língua portuguesa e procurar a definição para acaso encontraremos: [1. Conjunto de pequenas causas independentes entre si, que se prendem a leis ignoradas ou mal conhecidas]. Ora, se elas não são conhecidas, logo não pode simplesmente negá-las. É um efeito de uma causa desconhecida.

Na realidade a palavra acaso deriva do latim que significa jogar dados. Mesmo no jogo de dados não existe o acaso, pois jogando durante um período de tempo, estatisticamente todos os resultados vão se apresentar dentro de um padrão de resultados. Que causa é essa? Não se sabe. É uma causa desconhecida.

Então, essa assertiva nos remete à lei da causa e efeito que é o Karma. Pode-se atenuar a geração de Karma? Pode desce que se tenha o domínio do ritmo.

No entanto, os efeitos de causas anteriormente geradas se materializarão inexoravelmente, não podendo ser anulados, embora se possa atenuá-los. Para tal, o agente deve ser consciente pleno do mecanismo e ter uma postura ética para que não se repitam os mesmos padrões geradores dos efeitos.

Albert Einstein disse certa vez que é “insano continuar fazendo a mesma coisa e esperar por resultados diferentes”.

Entretanto, os resultados diferentes que se espera é que sejam benéficos e para tal requerem ações causais igualmente benéficas.

Esta questão da causalidade é um tanto que complexa, pois se tudo está condicionado a uma ação que sempre gera reação nunca se fecha, pois é um processo encadeado. Isso é chamado de samsara.

Dentro de condições normais não há cessação. Porém pode ser sanado, como orienta o Sr. Krishna ao discípulo Arjuna, na batalha de Kurukshetra narrada no Bhagavad-Gita. Somente a inação na ação, ou a causa desmotivada, tem a capacidade de não gerar reação. Para tal o agente deverá estar em um nível de relação isenção diante o mundo [estar no mundo sem pertencer a ele] que somente é reservada àqueles que atingiram uma envergadura moral de um iniciado nos estágios mais avançados da senda.

Gênero

"O gênero está em tudo. Tudo tem o seu princípio masculino e o seu princípio feminino. O gênero se manifesta em todos os planos. Todo o princípio macho tem o seu lado fêmea e todo princípio fêmea tem o seu lado macho".

Isso se aplica a todos os planos, não somente no físico, mas também nos mais sutis.

O aspecto da sexualidade existe mais evidente no plano físico e os dois pólos estão contidos dentro da mesma pessoa, sendo a energia do impulso criativo, de todas as coisas, principalmente da geração de filhos. O mau uso da sexualidade pode ser uma deturpação. Desde que seja bem direcionada ela tem um poder altamente criador. Um exemplo disso são os grandes pintores. Gauguin, Van Gogh, Da Vinci, Rafael, Michelangelo, não tinham praticamente uma vida “profana”, eles viviam para a arte, sendo a energia sexual transmutada na mais pura e sublime arte. É pelo domínio desta energia que se conquista a iluminação, devendo as polaridades serem reconciliadas. Já foi dito que todos os opostos e paradoxos são reconciliáveis e isso é mais intenso para a questão do gênero, onde a pessoa deve ter a sua própria sexualidade harmonizada dentro de si. O que leva à harmonização é a vida asceta, monástica, a vida do recluso, mas não a do celibato imposto, castrador, porque se estaria reprimindo o desejo, a libido.

O objetivo é harmonizar de tal forma que a pessoa se transformará em andrógino. É lógico que isso não é para o nosso plano de desenvolvimento, ainda.

Os grandes adeptos têm algo de assexuado ou hermafrodita. A palavra hermafrodita é aglutinação de Hermes com Afrodite. Mercúrio, o andrógeno associado ao amor de Afrodite. Não tem nenhuma alusão ao homossexualismo, mas sim ao amor puro e não condicionado ao sexo ou a qualquer tipo de atração sensorial.

No plano físico onde estes opostos se encontram mais distantes é onde se forma o palco do aprendizado humano. É a condição mais axial da materialidade onde está presente o desejo. Este é o processo do mergulho do espírito na matéria densa, que após a separação dos sexos, o "pecado" e a consequente expulsão do “paraíso”, temos que exercer o aprendizado da autotransformação pelas experiências de erros e acertos de vidas, até que pelo merecimento do próprio esforço possamos ressurgir renascidos, nutridos e ungidos, assexuados, puros e sábios, em comunhão com o Espírito Eterno da Divindade.

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